sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Começa o processo de identificação de corpos


Diplomatas do Brasil, Honduras, Equador e El Salvador chegaram, ontem, ao estado mexicano de Tamaulipas (nordeste) para identificar os corpos de 72 supostos imigrantes assassinados, em uma chacina que expôs o drama da imigração clandestina para os Estados Unidos.

O cônsul-geral do Brasil no México, Márcio Lage, foi pessoalmente ao local do massacre para tentar obter o nome dos supostos brasileiros mortos, que, segundo a Chancelaria mexicana, são quatro. Mas Lage questionou a informação.

De acordo com o diplomata, o único resultado de investigação apresentado pelas autoridades de Tamaulipas é a de que haja um brasileiro entre as vítimas. Lage, porém, ressalva que o nome da vítima "não soa brasileiro" e que nenhum documento que poderia comprovar a nacionalidade da vítima foi apresentado. Ele não quis divulgar o nome do suposto brasileiro.

Trinta e dois dos corpos já passaram por necropsia e quinze foram identificados, segundo informações do jornal mexicano "El Universal".

Na última terça-feira, militares mexicanos encontraram 72 cadáveres - pelo menos quatro deles de brasileiros - em um rancho da cidade de San Fernando, após a denúncia feita por um equatoriano de 18 anos que escapou do massacre.

O sobrevivente, identificado apenas como Freddy, contou ter levado um tiro no pescoço e fingido de morto em meio aos corpos dos outros imigrantes para escapar.

O Ministério Público de Tamaulipas explicou que, segundo a versão do jovem, os assassinos, membros do crime organizado local ligado ao narcotráfico, haviam convidado o grupo para trabalhar para seu bando, com pagamento de US$ 1 mil quinzenais. Ao rejeitarem a proposta, os imigrantes foram atacados pelos traficantes a tiros.

O equatoriano, única testemunha do crime, indicou membros do cartel dos Zetas como responsáveis. Ele está em um hospital sob forte vigilância e será receberá proteção policial.

O presidente mexicano, Felipe Calderón, condenou "energicamente" o massacre. Segundo ele, a chacina ocorreu "dentro de uma luta violenta entre o cartel do Golfo e seus ex-aliados, Los Zetas".

Los Zetas são soldados desertores do Exército que foram recrutados pelo narcotráfico. "Eles recorrem à extorsão e ao sequestro de imigrantes como mecanismo de financiamento e de recrutamento devido ao fato de estarem enfrentando uma situação muito adversa para abastecer-se de recursos", acrescentou Calderón.

Drama dos imigrantes

Até agora são desconhecidos os detalhes sobre a tragédia, mas esta trouxe para o centro das discussões o drama do sequestro sofrido por milhares de imigrantes que cruzam sem documentos o território mexicano para tentar chegar aos EUA.

A Comissão Nacional de Direitos Humanos registrou em 2009 a privação da liberdade de 10 mil imigrantes sem documentados num período de seis meses por parte do cartel dos Zetas.

A violência desatada pelo narcotráfico provocou 28 mil mortos desde o fim de 2006. O governo do México mobilizou 50 mil militares para combater os carteis. Nos últimos dois meses, houve duas grandes descobertas de corpos, em valas clandestinas que teriam sido usadas por pistoleiros do narcotráfico para livrar-se dos inimigos.

Tragédia

1.000 dólares quinzenais teriam sido oferecidos por narcotraficantes em troca do trabalho do grupo, que rejeitou a proposta e foi atacado.

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